Paternidade: a vocação de todo homem

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Assim se revela também até ao fundo o mistério da masculinidade do homem, isto é, o significado gerador e paterno do seu corpo” (São João Paulo II)[note] São João Paulo II, Audiência geral, 12 março 1980.[/note]

Diversos estudos[note] Cf. BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni. A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. psicopedag., São Paulo, v. 28, n. 85, p. 67-75, 2011.[/note] revelam que a influência do pai é fundamental para o desenvolvimento adequado de uma pessoa. É certo que a ausência ou inexpressividade da figura paterna modela a personalidade do indivíduo. As consequências, no entanto, variam de acordo com a história pessoal, que pode, das mais diversas maneiras, resultar em superações ou traumas, no âmbito da personalidade, da compreensão de si e, até mesmo, da sexualidade.

O que esperar de uma sociedade sem pais? Em certa medida, a figura paterna, do homem adulto — que tem como atribuições estabelecer limites, temperar as paixões e indicar prioridades, por exemplo —, tem sido sistematicamente fragilizada, no intuito declarado de colocar em xeque a própria organização familiar. Isso é evidente quando observamos o pavor que grande parte dos homens têm de serem pais ou mesmo de contraírem o matrimônio, escolhas que deverão sustentar ao longo de toda a vida.

Um fenômeno interessante que deve ser notado e avaliado na nossa sociedade contemporânea é o da imaturidade como um elemento constituinte do caráter de grande parte das pessoas, em especial, dos homens. Adquirir idade tem cada vez menos uma relação direta com o desenvolvimento da maturidade, ou seja, com integridade nos atos e responsabilidade sobre eles. O que se vê são homens que deveriam ser adultos tendo atitudes pueris e, sobretudo — o que é mais grave e implica diretamente em sua identidade —, idolatrando o prazer e o bem-estar.

A essência da masculinidade está no vigor e na força, que, moldados pela graça, são direcionados ao propósito sublime de ofertar a própria vida. É o que fez o próprio Cristo, por opção e não imposição: “[…] dou a minha vida. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou” (Jo 10,17s). A maturidade masculina, portanto, consiste em possuir a si próprio (autodomínio) e, por um ato de caridade (livre e total), ofertar-se, o que se contrapõe essencialmente ao egoísmo expresso no materialismo e hedonismo.

A paternidade — entendida aqui não somente sob o aspecto biológico, mas espiritual e psicológico — é, de fato, a maneira mais concreta de assumir a identidade masculina. O papa Francisco, em sua homilia no dia 26 de junho de 2013, proferiu as seguintes palavras: “Todos nós, para sermos plenos, para sermos maduros, temos que sentir a alegria da paternidade: inclusive nós, os celibatários. A paternidade é dar vida a outros, dar vida, dar vida…”[note] Papa Francisco, Homilia, 26 junho 2013.[/note].

Desse modo, é essencial que todos nós, homens, trilhemos esse caminho de maturidade à luz de Cristo. A ausência de modelos de homens viris só alimenta esse mecanismo de infantilização e de idolatria do materialismo. Os homens com uma identidade sadia e no caminho da maturidade devem se tornar modelos para outros, vivendo em plenitude sua paternidade, não só com os filhos biológicos, mas com outros homens que estão à sua volta.

Fraternidade de homens (Brotherhood)
Para aqueles que são chamados ao matrimônio é fundamental buscar auxílio de outros homens que claramente anseiam por viver uma fé autêntica no âmbito pessoal e familiar, para que sirvam de modelo e socorro nos momentos de fragilidade e de dúvida que hão de existir. Além disso, os pais devem adentrar o caminho da legítima masculinidade para garantir as condições essenciais de formação da identidade dos seus filhos, oferecendo uma educação adequada e fundamentada na fé e nas virtudes, possuindo uma abertura à vida e confiança plena da providência de Deus.

No que diz respeito aos sacerdotes, a instrução que trata dos requisitos psicológicos para admissão dos candidatos ao sacerdócio faz a seguinte ressalva, entre as qualidades que merecem destaque no processo admissional: “o sentido positivo e estável da própria identidade viril e a capacidade em relacionar-se de modo amadurecido com outras pessoas ou grupos de pessoas”[note]Congregação para a Educação Católica, Orientações para a utilização das competências psicológicas na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio[/note]. A paternidade está na origem da vocação sacerdotal e uma identidade ferida em relação à sua masculinidade põe em risco a própria missão do padre. Desse modo, caríssimos sacerdotes e vocacionados, é forçoso que assumam seu papel de pais espirituais e conduzam outros homens a uma masculinidade autêntica, viril e fecunda, o que exige dos senhores, fundamentalmente, uma opção firme de trilhar, vós mesmos e prioritariamente, este caminho.

O mesmo se aplica aos demais homens que se consagram no celibato, leigo ou religioso: é essencial ter o domínio de si para poder ofertar-se. Desse modo, todo celibatário é chamado a ser exemplo a outros homens, auxiliando-os na orientação, no discernimento e na vivência da fé, como fez o próprio Cristo, exercendo, assim, sua paternidade espiritual.

Quando um homem não tem este desejo [da paternidade], falta alguma coisa neste homem, alguma coisa aconteceu”. (Papa Francisco)[note] Papa Francisco, Homilia, 26 junho 2013.[/note].

Urge a nós homens, em todos os estados de vida, que busquemos com determinação a cura da nossa própria identidade para servirmos, com base em nossas lutas pessoais e convicção de fé, de modelos para outros homens. Essa experiência passa, até mesmo, pelo reconhecimento de nossas misérias e limitações, que são constituintes da figura decaída do homem e que, em contraponto, serve de via para que, pela misericórdia, alcancemos a graça da santificação.

Assuma, com vigor, o seu chamado de homem e oferte a sua vida para que se transfigure em fecundidade para você e para toda a humanidade. Este é o seu chamado!

Bravus,
pela hombridade

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