Brava Quaresma 2020: Castidade
Na Brava Quaresma deste ano nos dedicaremos à virtude da castidade, pois somente dominando-nos a nós mesmos poderemos nos oferecer a Deus a aqueles que amamos.
“O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai” (Jo 10,17s)
Como é possível a um homem ofertar a própria vida se não a possui verdadeiramente, se não tem domínio sobre si? Um escravo tem autonomia sobre seu próximo passo, seu futuro? Do mesmo modo, como é possível a nós, tão presos a nossas paixões, abraçarmos livremente a nossa Cruz e seguirmos os passos de Nosso Senhor?
Desde o início do Apostolado Bravus temos reafirmado que a natureza principal do chamado do homem é ofertar a própria vida. Isso é alcançado à medida que abraçamos a nossa cruz de cada dia, nas pequenas coisas, nos sofrimentos cotidianos, no silêncio e no escondimento da vida ordinária. É a virtude de corresponder ao chamado de Deus em cada simples ato, onde estamos plantados, como filhos, esposos, pais, amigos e profissionais. No entanto, para concretizar essa tarefa, que só é possível se permeada pela graça, é necessário possuir a si próprio.
Quando Nosso Senhor Jesus Cristo faz a seguinte afirmação: “Ninguém a tira (vida) de mim, mas eu a dou de mim mesmo” emana de seus lábios a integridade de um homem que, unicamente por possuir-se a si próprio (domínio de si), tem a capacidade de abraçar os desígnios de Deus e oferecer-se pelos demais (dom de si). Desse modo, fica evidente que para chegar ao dom de si é necessário, antes, obter o domínio de si. Esse é o percurso que somos continuamente convocados a trilhar: romper, com violência e auxílio da graça, com os grilhões das paixões para poder, possuindo-se, desfrutar da liberdade de ofertar a própria vida.
“A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz” (Catecismo da Igreja Católica, 2339).
Castidade, muito além da abstinência sexual
Diferentemente do que muitos pensam, a castidade não está restrita à abstinência sexual. Ela diz respeito à integração da sexualidade em seu sentido amplo e, portanto, uma compreensão abrangente a respeito do corpo e do espírito.
A energia sexual é algo intrínseco ao homem e não deve ser compreendida negativamente ou sob um aspecto pecaminoso. A sexualidade é um dom de Deus para que o homem viva com profundidade a caridade e experimente a unidade e doação da Santíssima Trindade em seu próprio ser.
O corpo é o instrumento para que o amor se materialize, é o meio pelo qual o homem ama e é amado, em todos os níveis da caridade. Não se trata de coincidência o fato de Jesus encarnar-se, possuir um corpo, e, depois da Cruz, ressuscitar esse mesmo corpo e retornar à Santíssima Trindade. Reafirmando ainda mais a relevância do corpo, Jesus instituiu o Sacramento da Eucaristia, centralizando e tornando sempre atual essa questão.
Desse modo, a castidade diz respeito à correta medida de amar a Deus, amar ao próximo e amar a si próprio. Cada um desses aspectos separados e, ao mesmo tempo, simultaneamente.
Por que a castidade é uma questão urgente?
O demônio quer destruir nossa capacidade de amar e isso pode nos custar a eternidade. É algo que parece ultrapassado, e até mesmo fundamentalista, principalmente em tempos em que é moda seguir o cristianismo como cultura e ignorar sua moral. Contudo, a verdade é que estamos nesta vida traçando nosso destino para o Céu, para a perfeita comunhão com a Santíssima Trindade, e ter um coração que arde em caridade é condição sine qua non para isso.
A luxúria, a pornografia, a fornicação e a masturbação são atos deliberados que resultam de uma desordem do espírito, atingindo o corpo. Ou seja, o espírito ama mais a si próprio e o prazer, quebrando a tríade que contempla o amor a Deus e aos irmãos. O outro, por consequência, é coisificado, perdendo a dignidade, para se tornar objeto do prazer. São circunstâncias terríveis que negam a caridade na essência. Tornamo-nos amantes do prazer e fugimos da dor e, sobretudo, passamos a ser vítimas dessa desordem, que resulta na autodestruição. O real convite de Cristo, tanto como seu próprio exemplo, é o oposto: abraçar a dor caso seja um meio para amar com mais intensidade.
“Porque aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la” (Mt 16, 25).
A castidade na Brava Quaresma
A oração, a ascese e a caridade são as armas a serem utilizadas nessa batalha. São os remédios para tratar o amor desordenado a Deus, a nós mesmos e ao próximo. Ter consciência do quão enredado se está no que diz respeito às paixões e pecados sexuais é o ponto de partida para chegar mais perto da liberdade.
Não teremos soluções mágicas e instantâneas. A obra do amor é um grande castelo, que é construído aos poucos, com muito custo, com a vida e a cada dia. Com suor, lágrimas e sangue. Desse modo, é necessário ter paciência, perdoar-se a si próprio e reconciliar-se com Deus.
“O domínio de si é uma obra de grande fôlego. Nunca poderá considerar-se total e definitivamente adquirido. Implica um esforço constantemente retomado, em todas as idades da vida (92); mas o esforço requerido pode ser mais intenso em certas épocas, como quando se forma a personalidade, durante a infância e a adolescência” (Catecismo da Igreja Católica, 2342).
Participe ativamente dos exercícios diários que vamos propor no decorrer desse tempo de Quaresma. Seja exigente consigo próprio, saia da sua zona de conforto e mergulhe na misericórdia de Deus. Tenha em mente que “um santo é um pecador que continua tentando” (São Josemaria Escrivá), que a quaresma é o momento propício para recomeçar. Contudo, é preciso ter uma “decisão decidida”, um firme propósito, uma resposta viril diante das fraquezas.
Conte com nosso apoio e oração. Consagramos esta Brava Quaresma e nosso apostolado ao Castíssimo Coração de São José! Pedimos aos santos homens que intercedam por nós nesta batalha pela castidade.
Castíssimo Coração de José, rogai por nós!
Bravus, pela hombridade.
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