Os Efeitos da Pornografia no Cérebro Humano
Hoje a neurociência conhece os efeitos da pornografia no cérebro humano. Muito longe de uma sadia distração ou ponto de escape, como fazem querem crer certos “experts”, sabe-se que o consumo de pornografia altera todo o sistema de produção de dopamina e de recompensa cerebral.
Os Efeitos da Pornografia
Por Igor Teles de Menezes Magalhães
Psicólogo, pós-graduando em Neuropsicologia, terapeuta cognitivo comportamental e membro da Confraria Bravus
Deus instituiu dez mandamentos, dentre os quais, assim lemos no sexto: “Não pecar contra a castidade”. Para o cristianismo a pornografia é definitivamente uma infração direta a esse mandamento divino. Seria isso apenas puritanismo cristão ou realmente existem consequências práticas morais e físicas para os consumidores da pornografia?
Pesquisas apontam que 22 milhões de brasileiros assumem consumir pornografia, sendo o Brasil um dos países que mais consome esse tipo de conteúdo no mundo. Neste artigo vamos apontar dados que cientificamente corroboram a visão religiosa dos efeitos negativos da pornografia no cérebro e no comportamento humano.
A pornografia já deixou de ser assunto exclusivamente religioso há alguns anos. A neurociência e a psicologia apresentam dados científicos que comprovam efeitos dessa prática a médio e longo prazos no cérebro humano. Estudos realizados pelo Dr. Donald Hilton, neurocirurgião e professor da Universidade do Texas, apontam a pornografia como uma adicção (vício) tão nociva ao cérebro e ao comportamento humano como cigarro, bebida e outras drogas. Antes de entendermos os efeitos desse tipo de conteúdo é preciso compreender o motivo pelo qual pesquisadores como o Dr. Donald têm agrupado a pornografia às outras adicções. O argumento parte da compreensão de adicção como uma desordem crônica cerebral que, segundo a Sociedade Americana de Medicina de Adicção, afeta os sistemas de recompensa, motivação e memória, abrangendo também adicções relacionadas à comida e a jogos de azar. A Classificação Internacional de Doenças (CID – 11) adequa essa adicção na categoria “Transtorno de Comportamento Sexual Compulsivo”.
Anatomicamente falando, a adicção, em geral, pode afetar três pontos cerebrais interconectados de extrema relevância. Primeiramente a Área Tegmental Ventral, parte superior ao tronco encefálico, localizado no centro do mesencéfalo, e responsável pela produção de dopamina no cérebro, sendo a área cerebral encarregada de orientar o comportamento a alcançar seus desejos e necessidades. Também o Núcleo Accumbens, apontado pela neurociência como responsável pelo Sistema de Recompensa imediata do cérebro. Imagine a seguinte situação: quando você está jogando videogame e passa de fase, o seu cérebro aciona essa área, que reconhece uma recompensa imediata e libera dopamina produzida pela área tegmental ventral, o que faz com que você, automaticamente, seja levado a continuar o jogo, visto que o mesmo apresentou recompensas ou ganhos a curto prazo. Existe, por fim, uma terceira área interconectada a essas outras, chamada de Córtex Pré-frontal, área localizada na frente do cérebro e responsável por planejamento e execução. Algumas de suas atribuições são o controle inibitório, capacidade de controlar resposta imediata a estímulos e ao julgamento, capacidade de discernir o que é ou não conforme ao sistema moral e cultural em que o indivíduo foi criado. Por exemplo, quando você está no trânsito e imediatamente deseja (a partir da área tegmental ventral) gritar com alguém que lhe ultrapassou e espera que isso lhe traga alívio das tensões (a partir do Núcleo Accumbens), é o Córtex Pré Frontal que te leva a se perguntar racionalmente se isso realmente é necessário e ponderar se tal comportamento é ou não adequado.
A compreensão da função dessas áreas é importante para entender o comportamento sexual desordenado. O orgasmo sexual é tão potente para o ser humano como uma injeção de morfina no cérebro, visto que a descarga de dopamina aumenta em cerca de 200%. Estando interligadas, alterações em uma dessas áreas resultará em danos significativos nas demais.
Podemos concluir, portanto, que as descargas excessivas de dopamina, geradas pelo comportamento sexual desordenado e excessivo, alteram significativamente a capacidade do Córtex Pré-Frontal de julgar e discernir, armazenar e processar informações, modificando assim a neuroplasticidade cerebral, ou seja a capacidade cerebral de modificar-se em contato com o ambiente em que vive e com os pensamentos e comportamentos do próprio indivíduo. O cérebro tem capacidade de adaptação e, portanto, é capaz de desejar níveis cada vez maiores de prazer, o que impacta diretamente tanto no aumento de consumo de álcool e de drogas, por exemplo, como, também, na exposição à pornografia. Desse modo, como foi apresentado no decorrer do texto, todo o sistema de produção de dopamina e de recompensa cerebral é impactado com essa elevação dos níveis de prazer, acarretando transtornos adjacentes, como depressão e ansiedade, e, ainda, a diminuição do corpo estriado do sistema límbico. Também existem dados apontando que homens consumidores de pornografia podem ter menos substância cinzenta em sua estrutura cerebral. Outros efeitos no córtex pré-frontal ainda podem ser observados, como alteração na memória e retenção de novas informações.
Como visto, os efeitos da pornografia são muito negativos e não estão relacionados unicamente a fatores religiosos, mas, sobretudo, a fatores neuroquímicos que afetam diretamente o comportamento sexual dos indivíduos, sendo necessário o que a neurociência chama de reprogramação cerebral, ou seja, a retomada da capacidade de alterar novamente as configurações do cérebro, dependendo no nível de engajamento na adicção a pornografia.
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