Os jovens e suas frustrações vocacionais
Na minha adolescência, em meio aos afazeres paroquiais (graças a Deus conheço o perfume do incenso solene desde meus 11 anos se idade) percebi que muitos dos jovens que participavam comigo nas atividades, em algum momento acabavam por se sentir chamados à vida religiosa. Era uma alegria sem tamanho e a paróquia toda se alegrava ao ver os jovens vocacionados empenhados no conhecimento de Cristo e de sua Igreja e mais: empenhados em saber o seu lugar nela.
Conheci jovens que foram para o mosteiro beneditino, para o carmelo, para novas comunidades e, claro, para o seminário. Minha cidade se tornou um celeiro de vocações.
Eu mesmo já me questionei bastante e já quis ser padre! Eu já estava com visita marcada ao seminário dos Legionários de Cristo, mas a vida tomou outro rumo (assunto para um outro artigo).
O que todos esses jovens têm em comum? O que os une no tema do nosso artigo?
Respondo: a frustração.
Todos esses jovens “vocacionados” que eu trouxe para nossa história, aqui, voltaram pra casa porque o que eles pensaram ser o certo não era. Uns perseveraram por mais tempo, outros regressaram quase que de imediato às suas famílias para recomeçar sua vida.
Ledo engano juvenil.
É… acontece!
Eu fiquei muito tempo com isso na cabeça, sabe. Poxa, por que será que existe tanta tentativa frustrada de vocação religiosa entre os jovens? Por que tanta gente volta, desiste e alguns acabam se perdendo totalmente da vida em Deus?
A conclusão a qual cheguei é justamente o tema deste artigo..
A grande maioria dos jovens não tinha estrutura familiar. Não tinha exemplos a seguir, experiência de santidade no seio familiar.
Se esses jovens percebessem em casa, e não na sacristia, que a santidade é acessível a todos, certamente acertariam de primeira na escolha vocacional.
Nossos pais não foram ensinados a formar santos. Foram ensinados a formar excelentes profissionais. E, por conta disso, a evangelização primeira, a catequese básica de casa, muitas vezes falha. Fora os casos das famílias destruídas pelo adultério, drogas e fatalidades imprevistas. Tudo isso deixa marcas profundas nos jovens. Marcas que podem se tornar tão grandes ao ponto de esconder, na mais bela busca vocacional, um grande abismo de medo e desejo de fuga.
A santidade não é só para os sacerdotes e religiosos. A santidade é para TODOS!
Permita-me dar alguns exemplos para ajudar você a digerir melhor isso.
Santa Teresinha do Menino Jesus
Teresinha aprendeu a sua “Pequena Via” em casa, com o exemplo de seus santos pais. Claro que foi aperfeiçoada à medida que ela amadurecia e se santificava, mas o germe de sua santidade veio de casa! Ao ler a História de uma alma (se você ainda não leu, leia!), e alguma biografia da família Martín (leia também), vai perceber isso facilmente.
São Luis Martín (pai de Santa Teresinha)
Luís era relojoeiro e trabalhava muito. Era comerciante e também viajava bastante. Porém, nada disso foi impedimento para que mantivesse “em dia” sua vida de práticas de ascese.
Ele foi marido, pai, trabalhador. Hoje é santo.
Santa Gianna Beretta Molla
Esposa, evangelizadora, mãe de família e santa. Preferiu a morte a perder sua filha, dando sua própria vida para que Joana vivesse.
Beato Carlos da Áustria
Exemplo de esposo, pai e rei! Conhecido por suas virtudes desde a juventude. Homem virtuoso na família, no trono e no campo de batalha. Era conhecido como “ O Rei da paz”
Os exemplos são diversos e eles nos mostram que a santidade não é só possível, como também é próxima a nós. Nossas famílias precisam voltar a ser berços de santidade.
Todas as vocações surgem de dentro do seio familiar e é urgente retornar a sua essência: a família é a Igreja Doméstica.
A rotina de oração familiar, vida virtuosa dos pais e a participação na vida paroquial (se possível indo além da Missa dominical) são portas abertas para a felicidade e santidade da família.
E digo mais! Por mais que você não tenha tido exemplos de virtudes em sua família, e por isso mesmo buscou lá fora algo que não era seu, convido a retomar sua vida e voltar a caminhar rumo à Verdade.
Sejamos nós os exemplos em casa!
Independentemente de seu rumo vocacional, do lugar para onde está indo, comece seu caminho em casa, pois é da família que florescem as vocações para a Igreja.
É dentro de casa que o céu começa/ Nas pequenas coisas de quem ama./ E não perde tempo, Quem ama não perde tempo.”
Ótimo texto!