Paternidade: consumir-se para levar os filhos ao céu
A paternidade é vocação de todo homem, portanto o que São Paulo diz aos maridos também diz aos pais: amem como Cristo amou a Igreja (Ef 5, 25). E Ele amou dando o seu preciosíssimo Sangue em sacrifício para a nossa salvação.
A paternidade não é mais do que dar todo o sangue – normalmente em forma de suor – para a santificação da própria família.
Nestes tempos recentes de crise na família, Deus tem-nos presenteado com alguns homens que nos dão autêntico exemplo de paternidade traduzida em sacrifício pelos filhos. Um deles já foi bastante citado neste blog e teve a sua canonização recentemente anunciada: São Louis Martin, pai de Santa Terezinha de Lisieux. Homem de intensa busca pela santidade desde a juventude, ao ter suas aspirações iniciais de vida religiosa frustradas, casou-se e propôs a sua esposa – Santa Zelie Martin – viver em castidade, como viveu o casal de Nazaré. Felizmente, um inspirado diretor espiritual os demoveu de tal ideia. Assim puderam dar ao mundo uma família inspiradora e uma das maiores santas da história recente.
Este homem dedicava a vida para suportar a vida espiritual da sua família, sem menosprezar as necessidades materiais da casa. Enquanto relojoeiro, trabalhou duro. E em determinado momento, renunciou à sua própria vida profissional para apoiar os negócios de renda que a sua amada esposa havia montado. Quando enviuvou, deixou a sua cidade de Alençon, com todos os seus amigos, negócio, e até a própria mãe, para atender um desejo da sua amada Zelie: que as suas cinco filhas pudessem estar perto do seu tio, Isidoro Guerin, em Lisieux, que lhe havia prometido suportar a família quando ela partisse para o céu.
Louis deu tudo o que tinha de mais precioso para Deus: das suas cinco filhas (quatro carmelitas e uma visitandina) até a sua própria sanidade. Cinco anos antes de voltar à casa celeste, cai enfermo de uma arteriosclerose cerebral, tirando do homem aquilo que lhe é mais precioso: a própria consciência e o domínio de si. Mas a sua decrepitude, antes de ser motivo de desgraça à família, é meio de santificação para o próprio Loius e suas filhas. Menos de um ano antes de cair enfermo, confidencia: “Minhas filhas, volto de Alençon onde, na igreja de Notre-Dame, recebi grandes graças, consolações tais que fiz esta oração: ‘Meu Deus é demais! Sim, sou muito feliz, não é possível ir assim para o céu, quero sofrer alguma coisa por vós’. E ofereci-me…”. Indubitavelmente Deus recebeu este pedido e enviou as provações e sacrifícios necessário tanto para a sua santificação, como para o engrandecimento de suas filhas. Elas sofreram tanto quanto ele, de forma que Santa Terezinha afirmou em uma carta a sua irmã Celina: “O Senhor ama Papai incomparavelmente mais que nós o amamos. Papai é a criancinha de Deus: a fim de poupar-lhe grandes sofrimentos, Deus quer que soframos por ele”. Mas este sofrimento não era em vão, pois também dizia “Soframos em paz! Quem diz paz não diz alegria ou, pelo menos, alegria sentida… Para sofrer em paz, basta querer o que Jesus quer…”. Tal maturidade espiritual tem, sem sombra de dúvidas, ação da entrega e sacrifício de um pai que amou a sua família como Cristo amou a Igreja[note]Livro Louis Martin, incomparável pai de Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, do Dr. Robert Cadéot[/note].
Bem mais recentemente o céu recebeu um outro pai amoroso e entregue. No dia 6 de março deste ano faleceu o sr. Chema Postigo [note]http://www.lainformacion.com/interes-humano/Fallece-Chema-Postigo-numerosa-Espana_0_1005499894.html[/note], chefe da família mais numerosa da Europa e meio de santificação para os seus 18 filhos, 15 deles vivos. A família Postigo tem sido uma chama de esperança para uma Europa descristianizada e cada vez menos fértil. Não só o número de filhos pode nos fazer pensar em dificuldades que este pai pode ter passado, como o próprio histórico de saúde deles (oito dos quinze filhos tem problemas cardíacos, o mesmo tipo de problemas que abreviou a vida dos já falecidos) e as frequentes dificuldades financeiras que passaram: desde negócios falidos a dias de geladeira vazia! Mas as dificuldades auxiliaram na formação de cada um destes filhos, e Chema – assim como São Louis – soube dar o sangue e amar a família dando a sua própria vida. Faleceu com apenas 56 anos de um câncer no fígado que não lhe deu mais que duas semanas depois de diagnosticado. Ao comunicar a sua família, fez questão de conversar com cada um dos seus filhos e em cada uma dessas conversas começava com “Jesus é muito bom, nos ama muito, nos quer perto dele…”[note]https://www.actuall.com/familia/jesus-nos-quiere-junto-asi-comunico-chema-postigo-uno-uno-15-hijos-se-moria/[/note]. E na prática da piedade diária, sobretudo na reza do terço em família, tanto Chema como Rosa, sua esposa, lutaram para a santificação dos seus filhos. Perico, numa mensagem após o funeral do seu pai, mostrou um pouco deste resultado ao despedir-se assim: “Papai, és um exemplo de vida cristã, de piedade Mariana e de entrega ao próximo. Deus queira que nos pareçamos mais e mais a ti”[note]http://www.religionenlibertad.com/emotiva-despedida-uno-los-hijos-chema-55374.htm[/note].
Que saibamos seguir os exemplos destes bravos homens, e não nos fatiguemos nem nos atemorizemos na luta diária do sacrifício por nossas famílias. Demos cada gota de sangue, amando os nossos como Cristo amou a Igreja.
Bravus, pela hombridade!
Bravo herói da vida cotidiana!
São estes exemplos que nos fazem hoje ter esperança de que vale a pena ser pai homem, e levar nossos filhos para o Céu (seja filhos biológicos ou espirituais).