São Patrício, a Irlanda e a cerveja
Nesta dia de São Patrício publicamos mais um texto de nosso confrade expert em cerveja, Guilherme Mattoso. Desta vez, sobre o provavelmente mais conhecido de todos os santos cervejeiros, São Patrício, o grande evangelizador da Irlanda.
Santos Cervejeiros: São Patrício
Por Guilherme Mattoso*
São Patrício é um dos mais famosos e celebrados santos cervejeiros. Nascido no País de Gales, foi missionário e bispo no século V, conhecido como “Apóstolo da Irlanda” e posteriormente sagrado padroeiro daquele país, juntamente com Santa Brígida de Kildare e São Columbano. Além da Igreja Católica, Patrício é também venerado nas igrejas Anglicana, Católica Antiga e Ortodoxa. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 17 de março e mesmo não tendo milagres cervejeiros relacionados ao seu nome, sua figura está intimamente ligada à cultura da bebida na Irlanda.
Pouco se sabe sobre seus primeiros anos de vida. Seu pai, Calpurnius, era diácono, mas Patrício só passou a praticar a fé cristã na adolescência. Capturado aos 16 anos por piratas, foi vendido como escravo e levado para a Irlanda. Durante seis anos trabalhou como pastor de animais até conseguir fugir e voltar para a sua família e, de lá, para a França, onde iniciou a vida monástica. Anos depois, voltou para a sua terra natal como missionário, na companhia de São Germano de Auxerre.
Depois da morte do padre encarregado das missões na Irlanda, o papa Celestino I convocou Patrício para substituí-lo e, assim, no ano de 432, já consagrado bispo, retornou ao local onde fora escravo para pregar o Evangelho aos povos pagãos da “Ilha da Esmeralda”. Em seu livro, Confessio, declarou que sua vocação era:
“Um mandado Divino e fundado no aprendizado humano e assim a sua preparação para um retorno a Irlanda era na verdade, uma preparação espiritual engendrada por Deus”.
Nos 30 anos seguintes, São Patrício viajou por toda a Irlanda levando a palavra de Deus e convertendo praticamente toda a ilha. Não à toa este pequeno país tem tantos santos e missionários que partiram de lá para levar o Evangelho mundo afora. Um símbolo muito usado pelo santo em suas pregações era o trevo, cujas três folhas serviam como exemplo do mistério da Santíssima Trindade: um único Deus, mas três Pessoas Divinas.
Duas de suas grandes realizações foram a promoção do Clero nativo irlandês e a delicada integração da fé Cristã com a cultura céltica-irlandesa. Foi incentivador do sacramento da confissão particular, tal como conhecemos hoje, e fundou também vários mosteiros, transformando a Irlanda em um centro de produção de conhecimento e difusão do cristianismo no período medieval.
Muitas histórias e milagres são atribuídos à São Patrício, mas, infelizmente, não existem registros históricos que confirmem tais relatos. A lenda mais famosa é aquela que se credita a ele a expulsão de todas as serpentes da Irlanda. Antes da sua presença, a ilha continha, de fato, uma enorme quantidade de cobras, mas o número delas sofreu uma queda desproporcional após um suposto milagre. Por isso, em muitas imagens, o santo é retratado matando o animal com um cajado.
Acredita-se que São Patrício viveu até idade avançada, falecendo de causas naturais no dia 17 de março de 460. Seu túmulo, localizado em Downpatrick, na Irlanda do Norte, transformou-se em local de peregrinação para cristãos do mundo todo. A despeito da escassez de dados que atestem sua canonização, sabe-se que uma das forças por trás da popularização do Dia de São Patrício foi o clérigo Luke Wadding (Séc. XVII), membro do comitê que revisou o Breviário católico e fez dele constar o dia 17 de março como dia do santo irlandês.
Dia de São Patrício
Todos os anos, em 17 de março, realizam-se festas e desfiles populares em homenagem a São Patrício em diversas cidades do mundo, sendo feriado público na Irlanda, Irlanda do Norte e na província canadense de Terra Nova e Labrador. As festividades também são muito populares em países que receberam muitas levas de imigrantes irlandeses, como Argentina, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia.
A “versão laica” da festa, além de homenagear o santo, também faz reverência ao povo irlandês e é marcada pelo uso da cor verde nas roupas, decorações e até mesmo na cerveja, tingida com corante e consumida aos montes onde quer que a festa seja celebrada. Para os católicos da Irlanda o feriado é um dia de preceito e, quando a data é comemorada na Quaresma, muitas famílias abrem uma exceção ao jejum de alimentos e consumo de álcool para participar das comemorações.
Publicado originalmente em Cervejeiros Confessos, no Medium.
* Guilherme Mattoso é jornalista, especializado em Comunicação Corporativa e Projetos Socioambientais, e entusiasta em temas como agricultura familiar, gastronomia e inovação. É também católico, casado e pai de um lindo casal de filhos; leitor compulsivo, apaixonado por cerveja, música, desenho, comida e viagens. Para mais informações, acesse: www.caipirismo.com.br.
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